08/05/2012 FACULDADE DE DIREIRO DE RIBEIRÃO PRETO – USP
UM DIA MUITO
IMPORTANTE PARA OS MOVIMENTOS SOCIAIS DE RIBEIRÃO PRETO
Na
Faculdade de Direito da Ribeirão
Preto criou-se o Núcleo de Assessoria
Jurídica Popular – NAJURP com o objetivo, entre outros, de conhecer a realidade
de algumas demandas populares e parte de grupos e de lideranças de Ribeirão
Preto. Partilhar tais saberes com a comunidade local e, por essa via, construir
formas de ação no grupo e outros tipos de reflexões e praticas em favor da
promoção de direitos humanos na região.
Esse Núcleo
de Assessoria Jurídica Popular iniciou alguns trabalhos de Campo e condensou
todos os resultados obtidos num Relatório que foi apresentado à comunidade
acadêmica e à comunidade em geral no dia 08/05/2012, intitulado Direitos Humanos em Ribeirão Preto – SP
2012, do qual vamos transcrever o
seguinte trecho, da Apresentação do Relatório:
Os trabalhos apresentados aqui refletem, em muito,
vários dos aspectos que são do próprio grupo que os elaborou. A diversidade de
temas demonstra o forte interesse por conhecer melhor uma região que é,
ambiguamente, conhecida pelos altos índices de riqueza e por graves problemas e
riscos ambientais decorrentes, em boa parte, dos próprios processos que geram a
prosperidade econômica.
Em outro
trecho, ressaltamos:
São temas que se incorporam às lutas gerais pela
efetivação dos direitos humanos. Os relatórios também colocam, por muitas
vezes, em evidência o papel do Estado como promotor e, simultaneamente,
violador dos direitos humanos que ele próprio reconhece em lei. Mais ainda, os
relatórios são expressão do fortalecimento, em alguma medida, da capacidade de
organização social para o exercício do controle sobre o Estado.
Os
Movimentos Pro Novo Aeroporto e o da Moradia e Cidadania foram convidados a
participarem do evento e fazem parte de um dos temas estudados no Relatório:
Direito à
moradia e mobilização social: um breve
panorama das condições habitacionais em Ribeirão Preto
À primeira
vista, o que pode ter o aeroporto com o direito à moradia? Porque moradia não é
apenas o direito a um teto. É também o direito a uma vida digna, saudável, com
condições urbanísticas decentes onde a acessibilidade e a mobilidade sejam
reconhecidos como uma boa prática administrativa, com os melhoramentos mínimos da cidadania à
disposição, tais como escolas, parques, comércio, postos de saúde e muitos
outros.
Ter que ser retirado de sua moradia para
atender aos interesses de alguns empreendimentos interessados na ampliação do
Leite Lopes é uma violação a esse direito. Ter que ficar submetido a poluição
sonora de aeronaves possantes, é uma violação à cidadania. Ter que ficar à mercê de sofrer acidentes porque
se insiste na insanidade de ampliar um aeroporto com pista curta e sem áreas de
escape em área urbana, densamente ocupada, é não só uma violação à cidadania
porque ultrapassa o desrespeito à vida e à segurança.
AS
principais lideranças – Marcos Valério pelo Aeroporto e Mauro Freitas pela
Moradia - representaram os respectivos Movimentos e fizeram as suas
apresentações. Alguns dos fatos relatados deixaram a assistência absolutamente
estarrecida!
A forma
como se processou a higienização da área, pela remoção dos pobres, para garantir a expansão do aeroporto; a
forma como se procedeu a essas remoções; as casas que receberam e a forma como
foram distribuídas e a arrogância e o menosprezo como essas famílias foram
tratadas; a ausência de transporte público e de
ciclovias para atender o bairro Paulo Romeu Gomes,
Em anexo,
os resumos das apresentações dos Movimentos Populares presentes na apresentação
da NAJURP.
Vista geral
da assistência e a faixa emblemática do Movimento Pro Novo Aeroporto
Marcos
Valério descrevendo aos presentes as razões dos defensores do puxadinho Leite
Lopes
Abaixo
assinado contra o puxadinho Leite Lopes e a favor de Novo Aeroporto
O arquiteto
e urbanista Mauro Freitas dissertando sobre a moradia popular em Ribeirão Preto
e o total descompasso nessas políticas assim como do espaço urbano sempre
ampliado deixando grandes vazios urbanos para atender aos interesses do mercado
imobiliário. Reflexões sobre essas políticas tomando como exemplo o bairro
Paulo Romeu Gomes
____________________________________________________
Informativo do Movimento
Pró Novo Aeroporto de Ribeirão e Região
para o Relatório “Direitos
Humanos em Ribeirão Preto – SP 2012”
Núcleo de Assessoria
Jurídica Popular da
Faculdade de Direito
de Ribeirão Preto da USP – NAJURP
10/5/2012
Análise rápida do Projeto
da administração municipal e do Governo do Estado para ampliação do Leite
Lopes que
a)
Coloca em risco a segurança do
entorno, dos passageiros e das tripulações;
b)
beneficia uma empresa privada;
c)
impede o desenvolvimento futuro de Ribeirão Preto e
região;
d)
constitui um desrespeito aos
direitos fundamentais da população do entorno em particular e à população em
geral.
O Papai Noel Leite Lopes não
existe. Seus propalados benefícios são
na verdade um presente de Grego
Base da análise: Para que o Leite Lopes
possa ser um Aeroporto Cargueiro Internacional deveria ter uma pista com o comprimento
preferencialmente de 3.900 metros de comprimento ou no mínimo 3300 metros. O projeto admite uma pista curta de apenas
2.100 metros. Isso significa que não pode operar com carga plena.
I
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
·
Necessidade
de aeroportos adequados: Um país continental como o Brasil tem que
considerar o sistema aeroviário como o meio adequado de garantir a mobilidade
da sua população e não pode continuar a ser considerado como o meio de
transporte das suas elites econômicas.
Cidades de porte menor que Ribeirão Preto, mas
economicamente hegemônicas na sua região, já construíram ou estão construindo
novos aeroportos que poderão ser
ampliados sem qualquer restrição. Exemplos: Bauru, S. José do Rio Preto,
Maringá, etc.
·
Impedimento
ao desenvolvimento regional: um aeroporto pequeno, sem condições de
ampliações futuras, estaria restringido à capacidade regional de se desenvolver
economicamente por falta da infraestrutura aeroportuária adequada. Seria bom apenas para um Terminal de Cargas que
teria a exclusividade para a exploração econômica das cargas aéreas
internacionais.
II PERDAS
PARA O MUNICÍPIO E AO ERÁRIO PÚBLICO
·
Perda econômica : com as aeronaves operando a meia
carga, o custo do frete será em dobro.;
Por exemplo: uma carga que lotaria um avião
precisaria de 02 viagens. Assim grande parte da demanda da região de Ribeirão
Preto se deslocaria para aeroportos vizinhos onde o frete seria mais
competitivo
·
Desperdício
dinheiro público: as estimativas de custo de um aeroporto
novo, com pista de 3.300 metros, com capacidade de ampliação para 4.000 metros
e de sediar uma cidade aeroportuária custaria pouco mais do que o custo que o
DAESP indica para fazer o puxadinho.
·
Este custo anunciado pelo DAESP é inferior ao
real porque usam valores de indenização a menor.
·
Quando se somar o que já foi gasto desde 1995
(quando ficou determinada a relocação do Leite Lopes em lei municipal) o valor
do desperdício é muito maior.
III IMPACTOS
NEGATIVOS
·
Marketing internacional negativo : menor aeroporto de cargas do
planeta. Com ínfimos 170 ha poderia até ser mencionado no Livro do Guinnes. A
média mundial é superior a 1200 hectares;
·
Impacto ambiental: riscos ao aqüífero Guarani porque o
leite Lopes está situado em área de recarga.
A ampliação da pista consistirá no aumento da área
impermeável e o emborrachamento da pista somente é possível de ser eliminado
com grandes quantidades de produtos altamente poluentes (solventes e
detergentes) que irão escorrer e contaminar o solo e depois o lençol freático através
do sistema de drenagem da pista.
A grande quantidade de combustíveis estocados e
lubrificantes que podem ser derramados
na pista e nos pátios, aumenta a possibilidade de infiltração. Todos esses
eventos juntos podem atingir o Aquifero Guarani contaminando-o.
·
Desconforto aos usuários : embarque na chuva e deficientes no
colo.
O aeroporto
não teria espaço para instalação de pontes móveis modernos.
·
Aumento no risco de acidentes: Nosso novo Congonhas
Falta de segurança operacional e sem
as necessárias áreas de escape, pela
existência de obstáculos limitantes e irremovíveis, de um lado a Rodovia
Anhanguera e de outro uma ferrovia, além do fato que em ambas as cabeceiras
existem urbanizações importantes.
Agrava-se o fato que acidentes quase
sempre ocorrem nas proximidades dos aeroportos
IV
Impactos na
população do entorno
·
Impacto no sistema viário do entorno
A
avenida defronte à cabeceira continuará no escuro e diferente do que é hoje (em
linha reta) , será logo após a curva que lhe dá acesso.
Bairros
compreendidos entre a Rodovia Anhanguera
e a lateral do aeroporto se tornarão mais
fechados, face ao aumento longitudinal do aeroporto, ou seja, vias de entrada e saída, através de voltas
quilométricas.
Pavimentação
asfáltica não adequada para comportar tráfego de caminhões pesados do Terminal
de Cargas.
Trafego de
veículos pesados no acesso ao Terminal de Cargas dentro de áreas residenciais
com manobrabilidade reduzida devido ao gabarito viário e o risco a pedestres,
principalmente idosos e crianças.
·
Impacto ambiental - Aumento da
poluição sonora nos bairros do entorno e na rota de aproximação: sobretudo devido à operação de aeronaves cargueiras em horário
noturno (corujões), agravando-se se o zoneamento de ruído for redimensionado
para tamanho menor do que o atualmente em vigor, visando reduzir custos com
desapropriações.
·
Impacto ambiental: divergência entre as competências
de norma de ruídos
A norma de aeroportos define uma
curva de ruído de 65 decibéis (diurno ou noturno) como limite onde se podem
fixar residências mas a norma de ruído urbanos determina o máximo de 45 dB no
período noturno e 55 dB no diurno, ou seja, mesmo quem ficar de fora da curva
de ruído estará sendo prejudicado na sua saúde.
·
Desvalorização
dos imóveis do entorno
Os imóveis que hoje são desvalorizados, continuarão o
sendo, mas de forma definitiva. O anunciado boom imobiliário é chutemetria
dirigida por quem finge desconhecer a engenharia das avaliações, como parte de
uma campanha de convencimento à
população do entorno para aceitar a ampliação.
·
Desapropriações podem ser muito
maiores que as anunciadas:
Dependem
da definição final do zoneamento de ruídos
As famílias
já estabeleceram suas raízes e apesar da campanha de convencimento do Papai
Noel Leite Lopes, haveria grande comoção social.
·
Indenização aos desapropriados por
valores menores que os devidos
A insistência em calcular o valor
das desapropriações por métodos inadequados usando o chamado valor de mercado,
que no caso, está muito abaixo do que deveria ser por causa da própria
desapropriação, em lugar de calcular
pela recomposição do bem, conforme determina a norma.
Pobre não pode contestar na justiça
e aceita ser prejudicado. Os que recorrerem do valor, esperarão longos anos no
Judiciário e no final, quando ganharem, recebem apenas a senha para entrarem na
fila dos precatórios.
·
Expulsões de parte dos moradores em
favelas
Por conta
de um cadastro antigo (2007) e pela pressa em regularizar as áreas do
zoneamento de ruídos, provavelmente visando as eleições municipais em 2012,
alguns moradores foram destinados para a Cohab Paulo Gomes Romeo, outros sumariamente despejados e uma comunidade
inteira, cerca de 200 famílias, expulsas com violência que teve repercussão
nacional – A Favela da Família.
“Queremos um governo mais justo. Muita gente que receber
a casa hoje vai vender amanhã porque não precisa do imóvel. Eu nem tenho para
onde ir”, disse Eliane Lima, 22, que vai ter que deixar a favela com dois
filhos de 1 e 3 anos. Jornal Gazeta -
12-2-11
“Não saem sem um lugar para ficar
não! Nós estamos oferecendo o CETREN , ajudando a desmontar o barraco para aqueles que querem fazer desta forma.”
Layr Luchesi
Jr – Secretário Municipal da Casa Civil (entrevista a EPTV – 18/02/2011)
·
Problemas na infra estrutura nas
casas da CDHU :
“A gente
conhece o nível de educação [dos moradores]... o pessoal veio da favela não
está acostumado em viver em casa.” Milton Vieira de Souza Leite - Gerente
Regional do CDHU em Ribeirão Preto – Jornal Gazeta de Ribeirão – 28/01/2012 –
pg 06.
. Direitos humanos da população do entorno
desrespeitados
Em termos de
população de entorno, os prejuízos citados se traduzem no desrespeito aos
direitos fundamentais no tocante a transparência e lisura da informação (e não a manipulada , já em uso
desde 1997 com o anuncio da requerida ampliação e apoiada por grandes setores
da mídia local), ao sossego público (lesado pelo aumento da poluição sonora), o
direito de ir e vir ficaria mais restrito (volta quilométrica para contornar o
aeroporto), insegurança por aumento no risco de acidentes e avenida de
cabeceira continuar escura. Incolumidade pública. Entre outros .....
V – Considerações Finais
Todos
estes prejuízos e o desrespeito aos direitos fundamentais podem ser facilmente
evitados. Bastaria que as verdadeiras forças vivas da cidade, exigissem a
construção de um novo aeroporto em um novo local,
moderno, amplo e seguro. No entanto as forças hegemônicas que detém o poder
político impedem qualquer iniciativa nesse sentido, incluindo a manipulação da
mídia para desinformar a população.
Por isso um passo importante nesta direção será
o voto consciente em políticos estadistas, comprometidos com projetos a médio e
longo prazos para nossa cidade, diferente do que historicamente temos elegido –
políticos casuístas adeptos do marketing restrito ao mandato de 4 anos.
Por
isso:
CONGONHAS
EM RIBEIRÃO, NÃO!!!
O LEITE LOPES FICA
COMO ESTÁ
NOVO AEROPORTO, EM
NOVA ÁREA, JÁ!
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