segunda-feira, 4 de abril de 2011

Contribuição do Padre Chico na audiência do Ministério Público

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Minha contribuição para a Audiência Pública no
Ministério Público – 22/03/2011

Tive a oportunidade de acompanhar de perto durante esses últimos anos a chamada “Novela sobre a eventual e polêmica internacionalização e conseqüente ampliação do atual Aeroporto de nossa cidade”. Fiz isso na qualidade de pastor a serviço do povo da periferia de Ribeirão Preto morando na sua proximidade: seja no Quintino Facci I e no Parque Industrial do Avelino Palma, esses dois bairros pertencendo canonicamente à Paróquia Santa Teresinha do Menino Jesus de que sou Pároco Administrador, seja nos bairros do lado do Jardim Aeroporto onde em tempos passados ajudei a formar as comunidades eclesiais principiantes com o Padre Nilton Elias, de grata memória. Fiz isso o tempo todo ao lado do Marcos, morador já antigo no entorno do Leito Lopes e meu irmão no canto litúrgico e companheiro-articulador de várias iniciativas, como, por exemplo, o plantio de mudas de árvores na Avenida do Jockey Clube, por ocasião de uma Campanha da Fraternidade anterior, quando mobilizamos várias entidades e um grande grupo de jovens no intuito de embelezar uma parte da ‘nossa Ribeirão’ bastante esquecida pela Administração Municipal e querendo dar um exemplo de como a própria população pode dar a sua contribuição na questão ambiental.

Hoje estamos aqui mais uma vez juntos e fico bastante emocionado, pois sinto neste momento que não foi em vão quando partilhamos por repetidas vezes a opinião de que seremos vitoriosos nesta luta. Vitoriosos primeiro porque conseguimos estar acompanhados por muita gente que progressivamente ajudou a formar um Movimento forte e determinado, o Movimento que recusa a implantação na vizinhança de um sério perigo tipo Congonhas e propondo por isso uma alternativa que deve vir ao encontro daquilo que a nossa região precisa e merece, a saber, um novo, amplo, moderno e, especialmente seguro aeroporto. Uniram-se nessa empreitada, graças a Deus, engenheiros, advogados, promotores, favelados, operários, donas de casa, estudantes, líderes populares, centenas de pessoas que se mostram solidárias no empenho coletivo para melhorar a qualidade de vida dos Ribeirão-Pretanos, especialmente de nossos co-cidadãos que carecem de mais respeito e dignidade humanos. Vitoriosos, em segundo lugar, porque essa união tornou-se contagiante em tempos mais recentes como provam as múltiplas ações em discordância frente a maneira de proceder das autoridades locais ao tentar executar o seu projeto de desfavelamento. Temos como ilustração, sobretudo, aquilo que está acontecendo na favela do Brejo e nestas últimas semanas na nova batizada com o nome de favela da Família, localizada na proximidade da Avenida Recife que junta em torno de 200 famílias e fica quase anexada à outra onde provavelmente também haverá problemas, a bem conhecida favela do Leão Leão.

Portanto, o que neste momento está em discussão é toda a política habitacional em relação àquela camada populacional caracterizada por uma situação econômica declaradamente fraca e excluída dos benefícios financeiros que se traduzem num PIB vantajoso na famosa Capital do Agronegócio. O que a gente questiona é que, apesar de não duvidarmos das boas intenções ao tomar conhecimento pelos meios de comunicação de um plano que visa eliminar a necessidade de qualquer núcleo familiar ser obrigado a esconder-se num casebre de papelão e de lata, o que a gente questiona é uma política pública visivelmente mal conduzida porque muitas vezes falta uma assistência social que leva em conta que sem os devidos cuidados pedagógicos a chance, a probabilidade e o risco são grandes de sermos dentro de pouco tempo obrigados a assistir novamente um filme já bem antigo: ‘desfavela aqui e empurra ali para a criação de novos núcleos formados por moradias igualmente desumanas’.

Encerrando a minha contribuição, faço questão de apontar, com o coração repleto de esperança, para mudanças mostrando que no Brasil e também em ‘nossa Ribeirão’ estamos enxergando sinais de nítidos avanços democráticos. Aqui, por ocasião da Audiência Pública sendo realizada nesta hora, quero frisar apenas um, mas que eu considero de importância indiscutível. O povo pobre e tão injustiçado está sendo amparado, está sendo defendido e está sendo promovido em seus direitos através do Ministério Público e da Defensoria Publica, assim como deve acontecer num Estado de Direito. Portanto, nada mais justo do que, por meio da nossa presença e participação, do nosso abaixo-assinado e da nossa certeza compartilhada de vitória, oferecer o nosso respaldo aos Senhores Promotores diante da ameaça por parte do Poder Executivo Municipal de articular uma ação judicial procurando desfazer o acordo selado há mais de dois anos e que assegura a impossibilidade de prejudicar gravemente o interesse público. Fazemos questão que se registre em toda clareza o nosso repúdio diante de uma lamentável iniciativa dessa espécie!

No fundo da consciência, cada um de nós é constantemente convidado a fazer as suas escolhas. Queira Deus que seja em prol da vida, e vida para todos, e vida em plenitude. Rogo a Ele pela intercessão de São Sebastião e na aproximação da festa da Páscoa, para que nos ajude a fazermos a escolha mais correta possível, a saber, aquela feita pelo seu Filho, o Cristo Jesus: a própria vida servindo para superar as forças do mal e assim possibilitando ressuscitar para o bem que liberta! Muito obrigado!

Padre Francisco Vannerom, pároco da Paróquia Santa Teresinha


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