Cientista Político defende novo aeroporto
TV Clube – 11-8-11
Repórter Larissa:
Com as promessas do governo fica a expectativa da internacionalização. Eu converso agora com o Professor de Ciências Políticas , Antônio Calixto.
- Vencendo os problemas técnicos Ribeirão Preto tem força política para internacionalizar o aeroporto ?
Professor Calixto:
Olha, a internacionalização virá, porque a região tem força política e o mercado impõe que Ribeirão Preto tenha um aeroporto internacional. O que se discute é a forma, o que fazer. Eu percebo que a sociedade requer, exige um novo aeroporto. O atual, por incrível que pareça, é um dos cinco primeiros do Brasil. Veja o gargalo que é a aviação civil brasileira.
Então, na verdade, quando se ampliar o atual aeroporto ele já estará defasado para atender o mercado regional que é muito grande. Por isto ele nasceu fruto do casuísmo, da falta de planejamento. E os problemas existentes estão aí, uma discussão quase que interminável e a região, o município necessitando, requerendo, exigindo melhorias do transporte aéreo.
Repórter Larissa:
Várias cidades da região podem mudar a economia através da presença dos aviões e da aviação . Os políticos estão preparados para este fato ?
Professor Calixto:
Político, ele trabalha pressionado. Então é importante que a sociedade, que a região pressione nossos representantes para que nós não só melhoremos o que temos, que foi construído de forma já errada. Tudo que se fizer ficará já superado. É importante que se lute , que se comece a lutar imediatamente por um grande, por um novo aeroporto regional, planejado, adequado às normas do meio ambiente , que respeite a população, que respeite o seu entorno , o que não acontece hoje, infelizmente.
Repórter Larissa:
Os problemas de hoje que afetam a aviação poderiam ter sido evitados ?
Professor Calixto:
Claro, planejamento foi o que eu acabei de dizer. Ribeirão tudo foi casuísmo. Não tivemos plano diretor, O terreno ocupado hoje pelo Leite Lopes está em disputa judicial. Não se pode dizer ainda que o Estado seja o seu proprietário porque existe a mais longa discussão judicial.
Então tudo o que se fez nessa cidade, é uma cidade que clama por tudo e que tem a sorte de ter esta vocação comercial , porque senão teríamos indústrias no centro de Ribeirão Preto. O aeroporto Leite Lopes é uma das conseqüências da falta de planejamento e de organização.
Repórter Larissa:
Muito obrigada pela sua participação no Jornal da Clube
Abaixo o link da entrevista:
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Segue abaixo um artigo intitulado “Urbanização ‘à brasileira’ mostra intolerância à pobreza” e que demonstra com uma clareza que chega a doer, como o urbanismo é aplicado e quais os interesses que definem as políticas públicas, baseadas numa legislação que é aprovada pelos meios ditos legais, garantindo que o direito à propriedade e ao lucro seja mais importante que o direito de moradia, da qualidade de vida digna e à segurança.
O que é que esse tema tem a ver com o aeroporto? Tem tudo a ver com uma realidade perversa onde a legislação “vigente” não respeita os direitos das comunidades do entorno do Leite Lopes.
Os riscos quanto à segurança das populações do entorno e da zona de aproximação pela operação de um aeroporto com pista curta apenas para satisfazer os interesses de uma empresa transportadora e a alguns desavisados que acreditam – ninguém sabe o porquê – a futura ocorrência de um boom imobiliário provocado pela implantação de um puxadinho ou de um puxadão na pista.
Soma-se a essa insanidade, o desinteresse como política de estado do Governo do Estado de S. Paulo, em se ver livre do abacaxi “aeroportos estaduais”, privatizando-os ou através das chamadas políticas-público-privadas, entregando-os, melhoradinhos com o dinheiro público para a exploração privada, sem o menor escrúpulo quanto aos efeitos maléficos que possa causar ao limitar a capacidade da região se desenvolver pela falta de um aeroporto decente, digno e seguro.
É evidente que, caso possa ocorrer a ampliação da pista, o tal de puxadinho ou do puxadão, as comunidades do entorno sofrerão com a desapropriação ao preço aviltado do mercado, e os que não o forem, serão obrigados a conviver com o ruído do aeroporto e todo o desconforto urbanístico que será causado.
Existe até um pretenso conflito de Normas com relação aos níveis de ruído. Segundo a Norma de Aeroportos, as pessoas já podem viver e morar com 65 decibéis na orelha. Segundo as Normas de ruído urbano e as Normas de saúde publica, não pode passar de 45 decibéis à noite. E porque é que a cidade tem que submeter aos interesses dos aeroportos, para que a poluição sonora possa ultrapassar os limites da Saúde Pública?
Mas isso que importa? Quem se importa? Quem mora na periferia do Leite Lopes é pobre! O artigo caracteriza muito bem as razões da falta de escrúpulo com que as classes dominantes analisam a realidade urbana:
a exclusão dos mais pobres produz uma lógica perversa em que as classes dominantes cultivam a sensação de que a cidade funciona sozinha, ignorando que é um contingente populacional importante e pobre que a move, mas que tem que desaparecer findo o serviço”. Não só indiferente, a cidade é também intolerante: “o desprezo, a desconsideração para com as condições de vida dos mais pobres e suas demandas são também motivados por políticas e ações bem determinadas, porém veladas. O que nos remete à sensação de uma espécie de apartheid”.
Leiam o artigo. Vale a pena.
Urbanização ‘à brasileira’ mostra intolerância à pobreza
Publicado em agosto 11, 2011 por HC
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O ininterrupto crescimento da cidade de São Paulo, tanto econômico quanto físico, produz uma perversa desigualdade social. João Ferreira, arquiteto e economista, defende que transformar e tornar esse espaço mais igualitário passa por uma mudança de conduta individual, pressupondo um combate as atitudes que, mesmo de forma velada, reproduzem uma cultura da intolerância aos pobres.
Para Ferreira, aquilo o que hoje é celebrado como modernidade é a causa do padrão urbano excludente. Padrão que não se restringe à cidade de São Paulo, que é apenas o caso mais evidente e que infelizmente serve de modelo para o resto do país. As conclusões estão contidas no artigo “São Paulo: cidade da intolerância, ou o urbanismo ‘à Brasileira‘”, publicado na revista Estudos Avançados
Intolerância que Ferreira define como resultado de uma sociedade em que predomina a indiferença. Ele explica: “a exclusão dos mais pobres produz uma lógica perversa em que as classes dominantes cultivam a sensação de que a cidade funciona sozinha, ignorando que é um contingente populacional importante e pobre que a move, mas que tem que desaparecer findo o serviço”. Não só indiferente, a cidade é também intolerante: “o desprezo, a desconsideração para com as condições de vida dos mais pobres e suas demandas são também motivados por políticas e ações bem determinadas, porém veladas. O que nos remete à sensação de uma espécie de apartheid”.
Políticas implementadas por um Estado que promove uma urbanização desigual, porque é ele quem define a disponibilidade dos chamados instrumentos urbanísticos. Seu papel seria o de garantir uma produção homogênea de infraestrutura pública, evitando, assim, a exclusão das parcelas populacionais de menor renda. No entanto, no Brasil, como explica o autor “confunde-se o público e o privado na defesa dos interesses das elites, e essa equação afetou dramaticamente o modelo da nossa urbanização”. Teria sido desenvolvida no Brasil uma situação de segregação socioespacial em que a população mais pobre, sem opção de moradia, foi se “exilar na periferia”.
Embora causada pelo Estado, a segregação seria legitimada pelas classes dominantes, que o coagem para que aja em benefício delas.
Exerceria assim o que o autor chama de “racismo à brasileira”, ou seja, um racismo que existe mas não é confesso, e que não por isso faz menos vítimas. Essa intolerância à pobreza é revelada em várias ações, exemplifica Ferreira, como no caso de empreendedores de um condomínio de luxo que, incomodados com a vista para uma favela, acharam por bem ‘estimular’ a saída dos indesejados vizinhos pagando-lhes R$ 40 mil por família. E também uma política da prefeitura de São Paulo que se encarrega da ação de ‘limpeza’, oferecendo o ‘cheque de despejo’, R$ 1,5 mil para sair de suas casas, e R$ 5 mil se a família fizer a ‘gentileza’ de voltar ao seu estado de origem.
O Estado, além de não desenvolver políticas habitacionais que beneficie os mais pobres, acaba por impedi-los de viver em bairros mais ricos. Isso faria sentido pelo Estado ser patrimonialista, legitimado pelas classes mais abastadas, e em que o direito à propriedade está acima do direito à moradia. Uma realidade perversa em que a desigualdade não ocorre por falta de leis, mas pelo contrário, é legitimada por elas.
Ferreira aponta caminhos para reverter essa desigualdade, pois desde a redemocratização do país os governos comprometidos com as demandas populares propuseram uma “reforma urbana”, conseguindo pelo menos inserir essa problemática na agenda política.
Um exemplo teria sido a criação do Ministério das Cidades e do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social – embora até hoje não tenham tido quase nenhuma efetividade. Essa dificuldade em transformar essas propostas em verdadeiras ações ocorreria, segundo explica Ferreira, porque “uma das razões desse impasse está na dificuldade de transformação do próprio Estado e, em maior escala, do sistema e das práticas políticas que o legitimam. Uma máquina aperfeiçoada durante séculos para dificultar qualquer tentativa de transformação da lógica de produção do espaço urbano desigual não facilita a vida daqueles que participam de gestões com intervenções verdadeiramente públicas”.
EcoDebate, 11/08/2011
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