Construção de aeroporto na zona sul de São Paulo
sofre nova derrota, agora na Justiça
Presidente da Harpia Logística, André Skaf, filho do
presidente da Fiesp, Paulo Skaf, vem tentando sem sucesso há sete meses
reverter decisão da prefeitura de não conceder licença de construção
por Rodrigo Gomes, da
RBA publicado 09/03/2014 13:25, última modificação 09/03/2014 11:0
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Aeroporto privado
pretende receber 154 mil voos por mês. Ambientalistas alertam para risco de
degradação ambiental
São Paulo – O
Tribunal de Justiça de São Paulo negou, por duas vezes seguidas, um pedido
liminar da Harpia Logística para construir um aeroporto privado em Parelheiros,
na zona sul da capital paulista. A empresa de André Skaf, filho do presidente
da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), queria obter
judicialmente a licença de uso e ocupação do solo para o empreendimento próximo
a uma área de preservação ambiental (APA). A primeira negativa ocorreu em 3 de
fevereiro. A segunda, no último dia 20. No entanto, a Justiça solicitou à
prefeitura e ao Ministério Público Estadual que se manifestem sobre o caso, até
a próxima semana.
A Justiça
aceitou o pleito da empresa de questionar a competência da prefeitura em
arbitrar sobre o caso, em virtude de o aeródromo privado ser equiparado a bem
público federal, de acordo com o Código Brasileiro de Aeronáutica. Porém, como
a obra não foi iniciada, negou a liminar pedida sob justificativa que a empresa
estaria sofrendo prejuízo financeiro.
O juiz da 7ª Vara
de Fazenda Pública, Evandro Carlos de Oliveira, ressaltou que a prefeitura age
corretamente ao buscar “proteger o meio ambiente e combater a poluição em
qualquer de suas formas”. E que caberá à empresa comprovar que o poder público
está errado ao negar a certidão. O caso agora segue para apreciação do mérito
da questão.
A empresa de
André Skaf e de Fernando Augusto Botelho, um dos herdeiros do grupo Camargo
Corrêa, recorreu à Justiça após ter o pedido de licença para construção negado
pela prefeitura de São Paulo.
Saiba mais:
A Agência
Nacional de Aviação Civil (Anac) concedeu à empresa a licença de uso do espaço
aéreo para a região, em abril do ano passado. No entanto, o certificado diz
respeito apenas à área para pousos e decolagens. As autorizações ambientais e
de ocupação do solo são de responsabilidade dos governos estadual e municipal.
O governo de
Fernando Haddad (PT) argumenta que a região é definida como Zona Especial de
Preservação Ambiental (Zepam) na Lei de Uso e Ocupação do Solo (Lei 13.885, de
25 de agosto de 2004). Essa norma veta construções de grande porte, o que
impossibilita a instalação de um aeroporto na região. Com base nisso, a
prefeitura, por intermédio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano,
negou a licença de construção em 10 de agosto do ano passado.
A Harpia
Logística recorreu à Secretaria Municipal de Negócios Jurídicos, apontando um
suposto conflito de legislações entre a lei de uso e ocupação do solo e o
artigo 4º da norma que regulamenta instalação de aeródromos na cidade
(15.723/2013). Esta última norma define que aeródromos não podem ser
construídos em Zonas Exclusivamente Residenciais (ZER). A empresa entendeu que
isso indicaria que a construção precisa ser em regiões distantes de bairros
residenciais.
Porém, a
secretaria reafirmou a decisão anterior, esclarecendo que estas regiões não
podem receber aeroportos, mas que uma norma não implica na exclusão da outra.
A RBA procurou
a Harpia Logística para comentar o caso, mas não obteve retorno.
O projeto
O aeródromo
ocuparia uma área de aproximadamente 4 milhões de metros quadrados conhecida
como Fazenda da Ilha. Ela fica próxima das Áreas de Preservação Ambiental
(APAs) Capivari-Monos e Bororé Colônia, e do Parque Estadual da Serra do Mar,
remanescentes de Mata Atlântica. Ali também está localizado um dos principais
formadores da represa Guarapiranga, que fornece 30% da água consumida em São
Paulo, o rio Embu-Guaçu.
A Harpia
informa que somente 15% da área será construída. A pista teria 1.830 metros,
230 a mais que a do aeroporto Campo de Marte, na zona norte da capital, que
também recebe somente aviação privada. O local receberia serviços de táxi
aéreo, helicópteros, movimentação de cargas e armazenagem de peças de
aeronaves. Ele terá capacidade para realizar até 154 mil pousos e decolagens
por mês, segundo a empresa. Ao menos um hotel, um posto da Receita Federal e
espaços comerciais, devem ser construídos.
A empresa
defende ainda que o empreendimento vai criar 2 mil empregos diretos e 5 mil
indiretos e terá baixo impacto ambiental.
Movimento
contrário
Especialistas
organizados no Movimento Aeroporto em Parelheiros, Não! temem que a obra abra
caminho para o adensamento da ocupação na região, tanto por empresas quanto por
novos moradores. Também alertam para o impacto na fauna da região, nas árvores
e nas nascentes existentes no local, que poderia afetar o fornecimento de água
potável para a cidade, além de ocasionar a degradação da mata preservada.
A organização
não governamental SOS Mata Atlântica também teme a flexibilização da legislação
ambiental. A entidade publicou um manifesto em sua página na internet
posicionando-se contra a construção do aeródromo. "Diante deste momento de
revisão do Plano Diretor de São Paulo e de implementação de Planos Municipais
da Mata Atlântica para contrapor retrocessos praticados contra a Legislação
Ambiental brasileira, cabe à Fundação SOS Mata Atlântica posicionamento firme
em relação a não flexibilização do zoneamento para usos do solo na área de
proteção dos mananciais", diz um trecho do manifesto.
Essa
flexibilização pode ocorrer no processo de revisão do Plano Diretor Estratégico
de São Paulo, que deve ser concluído este ano. Para isso, seria preciso mudar o
zoneamento da região, que atualmente é uma Zona Especial de Preservação
Ambiental (Zepam).
A preocupação
não é sem sentido. Em uma audiência pública realizada em 9 de dezembro, na
Comissão de Política Urbana da Câmara Municipal de São Paulo, os vereadores
Antônio Goulart (PSD), Alfredo Alves Cavalcante, o Alfredinho (PT), Milton
Leite (DEM) e Andrea Matarazzo (PSDB) manifestaram-se favoráveis à construção
do aeroporto. No dia, somente Nabil Bonduki (PT) e Ricardo Young (PPS) se
disseram contra o empreendimento.
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