A Associação de Engenharia de Ribeirão Preto e o Leite Lopes
Lamentável que entidades que deveriam primar pela Engenharia possam defender esse projeto de aeroporto internacional que estão querendo impor a Ribeirão Preto e região
Tivemos a oportunidade de ler o artigo “A Culpa é de Quem?” publicado na revista Painel[i] de dezembro de 2015, da Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto(AEAARP), sobre o Leite Lopes e as pretensas razões pela sua ampliação.
Foi uma leitura altamente didática e proveitosa. Vamos ver algumas das suas “joias de sabedoria”:
A grande obra de “engenharia” viária: o túnel
Uma das espetaculares alternativas supostamente viáveis para a ampliação das pistas consiste na construção de uma passagem inferior em relação à pista, por meio do rebaixamento da av. Thomaz Albert Whately. Ficamos sem saber se é por meio de um viaduto (o que não pode nem é permitido) ou por um túnel. Como ninguém viu ainda o projeto[ii], nada se sabe sobre ele, mas no artigo algumas dicas são dadas através de um quadrinho:
Galeria com 4OO metros de comprimento? Não pode porque deixaria vulnerável parte do sitio aeroportuário e isso não é permitido, por facilitar o acesso a pessoas não autorizadas. É um problema de segurança. Em primeira análise, deveria ter, pelo menos, 700 metros de extensão.
Duas pistas com 3,6 metros de extensão? deve ser de largura.
Calçadas para pedestres com 1,2 metros em cada sentido? A norma de acessibilidade exige que sejam 1,20 metros, no mínimo, mas preferencialmente com 1,50 metros de largura. Porque é que não se faz a calçada com a largura necessária e se usa o mínimo? Será que o pedestre ribeirão-pretano não merece uma calçada adequada? Ou será um descaso para deixar a obra mais baratinha?
E onde fica a ciclovia? Esqueceram da ciclovia dentro da galeria? Ciclovia não é ciclofaixa e é obrigatória. E um pouco mais adiante a própria reportagem confirma quando descreve que cabe à Prefeitura Municipal a implantação de uma ciclovia no entorno. Talvez a ideia central seja a de que o ciclista, ao atravessar o túnel, coloque a bicicleta nas costas e caminhe igual a pedestre comum.
E agora as duas perguntas principais: Você, caro leitor, atravessaria a pé ou de bicicleta uma galeria fechada com 400 metros de comprimento (ou 700 m como tem que ser)? Você, caro motorista, teria coragem de parar para trocar um pneu furado? Temos tuneis no Rio de Janeiro que já dispõem de uma sinalização viária especifica a esse respeito, com avisos de "Cuidado: assaltos".
Você, caro leitor, conhece algum túnel viário com rebaixamento de via que fique sem alagamento durante as chuvas? Qual é? Basta colocar umas bombas que tudo se resolveria? Tem certeza?
O Movimento Pro Novo Aeroporto sempre exigiu o cumprimento do que a cidade decidiu em 1995[iii] para que o aeroporto fosse removido para local mais adequado, mas sempre foi contestado porque, dizem eles, custaria muito caro e demoraria 10 anos para ser construído (e já se passaram 20 anos!) no artigo, de forma bem “inocente” citam-se casos de aeroportos construídos mas que ficaram subutilizados, verdadeiros elefantes brancos. E citam dois casos:
Caso 1: ARACATI com pista de 1.800 metros consumiu R$ 36 milhões na construção.
Caso 2: GOIANÁ – Aeroporto Internacional Itamar Franco a 46 km de Juiz de Fora. Pista com 2540 metros. Construção iniciada em 2001 e entrada em operação em 2005. Custo total: R$ 100 milhões no aeroporto e R$ 50 milhões nas vias de acesso.
Dois fatos a serem analisados: não demoraram 10 anos para serem construídos e o mais caro custou 150 milhões de reais. As obras de ampliação do Leite Lopes e a adequação do entorno vão custar em torno de 500 milhões de reais. Não sairia mais barato fazer um aeroporto novo e dar uma outra utilização para o Leite Lopes?
Neste caso, agradecemos ao artigo a confirmação de nossas propostas como sendo as mais razoáveis e factíveis.
E o artigo encerra o seu arrazoado com “chave de ouro”:
Para a AEAARP, o aeroporto é estratégico para a região. ”A discussão do local onde está instalado já é superada, é incabível investir em uma nova estrutura se aquela tem condições de ser utilizada”, lembra o engenheiro Carlos Alencastre, presidente da Associação. “Se este debate está superado e a internacionalização está definida, não podem existir imbróglios politicos que atrasem tanto a efetivação do projeto”, pondera.
Alencastre acredita que as questões técnicas devem subsidiar as decisões administrativas em relação ao Leite Lopes. “As paixões devem ser deixadas em segundo plano quando a responsabilidade dos gestores exige medidas que vão impactar no futuro de uma região tão importante quanto a de Ribeirão Preto”, afirma.
Um aeroporto internacional é estratégico para Ribeirão Preto. Ninguém duvida. A questão está se no Leite Lopes ou em nova infraestrutura aeroportuária. Pista de 2100 metros (na verdade, ampliada para 2600 metros) não permite o uso de aeronaves cargueiras de grande porte já que para isso precisaria de pista bem maior. Ficou comprovado que o Leite Lopes não pode ser ampliado quando se desconstruiu o EIA-RIMA elaborado em 2007. Se um aeroporto internacional de cargas de verdade não cabe no Leite Lopes, não há muita coisa para ser discutida a não ser onde se construirá um novo, capacitado a ser ampliado o necessário sempre que o desenvolvimento regional o exigir para acompanhar o seu desenvolvimento.
A culpa é de quem?
Portanto o debate não está superado principalmente porque nem mesmo existe debate mas sim a imposição a Ribeirão Peto de um elefante branco que impedirá o desenvolvimento futuro e com a conivência de diversas instituições e personalidades que se recusam em discutir o assunto.
Como se pode verificar, a defesa da ampliação do Leite Lopes e, por consequência, o impedimento da construção de um aeroporto novo, caracteriza-se pela total incompetência em termos de engenharia. Por isso o EIA-RIMA elaborado em 2007 foi desconstruído porque lhe faltava exatamente isso: engenharia.
Lamentável que entidades que deveriam primar pela Engenharia possam defender esse projeto de aeroporto internacional que estão querendo impor a Ribeirão Preto e região.
Aprovar a ampliação do Leite Lopes, em lugar de se construir um novo aeroporto, é confessar que a região apenas merece um aeroporto modelo Congonhas.
O aeroporto novo já podia estar construído, operando, com segurança, por um custo semelhante ao da ampliação do Leite Lopes se não fosse a insistência de alguns setores em impedir a sua efetivação.
A CULPA É DE QUEM?
DAQUELES QUE INSISTEM:
SOMENTE O LEITE LOPES A QUALQUER CUSTO
[i] Revista da Associação de Engenharia Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto http://www.aeaarp.org.br/revista.php
[ii] Uma obra desse porte e da sua importância no sistema viário da cidade, deveria ser precedida de uma audiência publica para apresentação de um Estudo de Impacto de Vizinhança e do projeto básico. Esse Estudo não foi feito porque sabem que seria prontamente recusado pela sua insensatez. Consiste, na verdade, de mais um ato de imposição político-corporativa ao qual as autodenominadas de “forças vivas” da cidade não têm coragem de se oporem.
[iii] Plano Diretor - Lei Complementar 501/95, sendo que um dos signatários dessa proposta foi a AEAARP, que hoje defende exatamente o contrário. Para ponderar essa virada ideológica.
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