Foto Márcia Ribeiro
Este blog já contou a história algumas vezes, mas sempre é bom repetir.
O atual aeroporto Leite Lopes existiu como um aeroclube desde os anos
1930. Já na década de 1940, iniciou-se o processo de ocupação urbana no seu
entorno.
Quando o Leite Lopes foi oficializado como aeroporto, no início dos anos
1980, a região do entorno já estava tomada por bairros, alguns construídos
entre o final dos anos 1970 e metade dos anos 1980.
Quando, em 1995, Ribeirão Preto debateu o seu Plano Diretor, foi
detectada a impossibilidade de sua ampliação, tanto que aquele Plano Diretor
trazia em seu bojo a recomendação de que Ribeirão Preto e região necessitavam
de um aeroporto internacional, mas em um local fora dos limites urbanos.
Porém, em 1999, o Prefeito Jábali, do PSDB, introduziu na cidade o
'projeto' de internacionalizar o Leite Lopes, mesmo ao custo da remoção de
centenas de milhares de pessoas e sob o risco de colocar aviões de grande porte
sobrevoando as casas dos ribeirão-pretanos.
Foi o início de quase 20 anos de muita propaganda e muita falação
servindo de instrumento político-eleitoral. Quantas promessas de
'desenvolvimento', de 'modernidade', mas, de concreto, nada.
A obra orçada em 500 milhões praticamente não saiu do papel. Os
'puxadinhos' que foram realizados só serviram para manter a propaganda, dando
'fôlego' a algo impraticável.
Ficaram a promotoria e o movimento social local buscando chamar todos à
razão sobre a completa impossibilidade urbana, ambiental e social do 'projeto'.
Mas a propaganda ganhou a mídia, alinhou o campo político (é rara
a liderança política que ousa discordar do 'projeto) e a 'internacionalização'
seguiu em frente.
E isso foi, ao contrário da propaganda, o suficiente para paralisar todo
e qualquer investimento na área do entorno do Leite Lopes.
Donos de terrenos deixaram suas propriedades paradas à espera das
indenizações e da valorização da especulação imobiliária. E terrenos vazios em
uma cidade onde a desigualdade social é superior à média estadual e nacional
resultou em uma onda de ocupações por quem luta por moradia.
Hoje, 8 comunidades coexistem ao redor do aeroporto e a população local,
das comunidades e dos bairros, sofre com o retrocesso social, a deficiência em
equipamentos públicos e a ausência de emprego e condições de geração de renda.
No governo passado, de Dárcy Vera, com seu projeto de alterar o uso e
ocupação do solo de residencial para industrial, explodiram as denúncias de
violação de direitos humanos com as remoções forçadas que ocorreram contra as
ocupações.
E o drama continua no governo Nogueira, com dezenas de reintegrações de
posse engatilhadas e com a insistência da elite local em 'internacionalizar' o
Leite Lopes a qualquer custo ou, no mínimo, manter a falácia por mais algum
tempo.
Recentemente o deputado federal Baleia anunciou "80 milhões do
Temer" e o deputado estadual Gasparini vai tentar buscar mais uma quirela
no orçamento do Alckmin. Logo, o 'puxadinho' vai continuar.
Na recente audiência pública para debater o orçamento estadual para a
região, o vereador Marcelo Gasparini disse que é preciso lutar pelo "sonho
da internacionalização do Leite Lopes". É preciso perguntar: sonho para
quem, vereador? Porque para a população local o pesadelo já dura quase 20 anos.
Mas existe uma pergunta a ser respondida: existe alternativa para os
bairros do entorno que não seja a 'internacionalização' do Leite Lopes?
Sim, existe.
Primeiro é preciso deixar claro que a 'internacionalização' do Leite Lopes não
é para a população do entorno, até porque grande parte dessa população será
removida dali. O 'progresso' da 'internacionalização' servirá a outros
interesses, certamente aos interesses do grande capital, que até gera riquezas
mas pouco a distribui.
Segundo que há um projeto de um aeroporto internacional fora dos limites
urbanos, que seria construído em uma área próxima a Rincão e atenderia as
regiões de Ribeirão Preto, Araraquara e São Carlos, propiciando às três regiões
a possibilidade de desenvolvimento empresarial e logístico, como já ocorre em
muitas outras macro-regiões no Brasil.
E, por fim, aquilo que interessa à população do entorno, que é o
desenvolvimento local com geração de renda e inclusão social: o final do
pesadelo da 'internacionalização' poderia abrir outras possibilidades a partir
de políticas de microcrédito, cooperativas populares e da alteração no
zoneamento transformando toda a região em área de interesse social.
A vinda de uma escola técnica (Rio Preto instalou um Instituto Federal em menos
de seis meses a partir da vontade política) para a região com eixos voltados
para as aptidões locais somada a uma política de microcrédito e cooperativas
populares (que poderia começar com os 80 milhões do Baleia) produziria em pouco
tempo uma rede de geração de renda local crescendo num círculo virtuoso de
inclusão social, como já acontece em muitos lugares do Brasil e do mundo.
E a mudança do zoneamento para área de interesse social faria com que a
regularização dos assentamentos precários se tornasse bem mais fácil, exigindo,
talvez, menos de um terço dos 280 milhões que hoje falta para terminar a
'internacionalização'.
Há saída, há possibilidades, mas, claro, nós estamos falando de uma outra
Ribeirão Preto, que se voltasse para os problemas com foco nas pessoas e não
com foco no poder econômico como ocorre hoje.
Voltarei a este assunto.
Ricardo Jimenez