sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Blog da Prefeita Darcy não aceita carta do Padre Chico

À Prefeita Darcy Vera,

Uns trinta anos atrás, quando como jovem padre eu estava na minha fase pioneira atendendo pastoralmente algumas comunidades da periferia, entre as quais ‘Jesus Semeador’ no Tanquinho e ‘Deus é Amor’ na Vila Carvalho, num dia 02 de janeiro, fui com a Irmã Maria do Carmo da Congregação das Missionárias de Jesus Crucificado enfrentar os tratores da prefeitura que a administração do Dr. Duarte Nogueira, de respeitosa memória, tinha mandado para derrubar os ‘barracos’ às margens do córrego que fica na baixada do bairro da Lapa nos Campos Elíseos.

A nossa resistência frente essa drástica ação foi porque, conhecendo bem as famílias que aí se ‘escondiam’, não acreditávamos que ia solucionar o problema habitacional desses favelados. O nosso motivo principal era que anteriormente não houve qualquer trabalho adequado para preparar os mesmos em vista da ‘transferência’ para a COHAB no Quintino Facci II. Obviamente a nossa fragilidade não foi capaz de disputar de maneira efetiva com a força do ‘poder’... .

Na verdade, a cidade inteira presenciou naquela oportunidade o trágico desfecho daquela história: a maior parte daquela gente não soube como utilizar uma privada, não soube suportar a discriminação sofrida por parte dos demais moradores e, muito menos, teve condições financeiras e organizatórias para pagar as prestações da casa que ‘ganharam’! Depois de um curto prazo foram parar em outras áreas, ainda mais periféricas, onde encontraram uma miserabilidade pior... .

Hoje ainda não existe a avenida a ser traçada no antigo local, apesar de que esse projeto representava o pretexto para tal intervenção deplorável. Ao contrário, pode-se verificar um número bem mais elevado de casebres no meio dos quais funciona um os pontos mais ‘quentes’ do tráfico de drogas.
Resumindo: o pequeno Davi, que nós tentávamos representar, dessa vez não conseguiu derrubar o forte Golias encarnado pelas forças políticas e econômicas da nossa cidade de Ribeirão Preto.

Nos últimos dias fiz uma série de visitas domiciliares na ‘Favela da Mata’ onde atua a Pastoral da Criança e no bairro ‘Jardim Aeroporto’. Ontem coordenei a reunião do Conselho Pastoral da comunidade São Mateus que realiza o seu trabalho de evangelização no Quintino Facci I. E ao mesmo tempo estou organizando uma novena de natal no Parque Industrial do Avelino Palma. Significa, portanto, um contato intenso para com co-cidadãos Ribeirão-pretanos que se sentem diretamente ligados a tudo que a mídia local está mais uma vez veiculando a respeito da internacionalização do aeroporto. Porém, sabemos que a opinião dessa gente dificilmente alcança os jornais, as rádios e os canais de televisão.

Permite-me então de, ao comunicar-me com a Senhora, emprestar a minha ‘voz’ àqueles que estou ouvindo através de três observações:

1)    O povo vizinho do aeroporto manifesta bastante medo diante das prováveis conseqüências. Conforme a localização de sua residência: ou medo de perder sua moradia construída com bastante sacrifício, ou medo de danos na construção.
2)    O povo sente-se abandonado pelos poderes executivo e legislativo da prefeitura pelo fato que apresentam uma versão declaradamente unificada em não aceitar a discussão sobre uma possível alternativa.
3)    O povo declara, misturando resignação e indignação, que a história novamente se repetirá, a saber, nas ‘promessas’ dirigidas aos pobres o enfeite ou o embrulho importa mais do que o conteúdo... .

Ao encerrar, gostaria de anunciar-lhe que numa próxima comunicação pretendo abordar mais alguns outros aspectos. Com muito estimo mando as minhas saudações fraternas.


                                                Padre Francisco Vannerom
                                            Pároco da Paróquia Santa Teresinha
                                                              26/11/2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário